Durante as semanas da COP30, o Projeto Transforma apresenta um dossiê especial reunindo cinco notas dedicadas aos desafios da transição ecológica global sob a ótica do Sul Global. Os textos discutem a reconfiguração produtiva da Amazônia, a política industrial verde, o financiamento climático e as limitações dos mercados de carbono, compondo um panorama analítico sobre as transformações econômicas e institucionais em curso diante da emergência climática.
A Nota Técnica nº 19 – “A Amazônia como epicentro do padrão global de acumulação e os processos de desterritorialização”, de Giliad de Souza Silva, examina como o bioma amazônico se consolidou como núcleo do modelo econômico primário-exportador brasileiro. O estudo mostra que a região se integra às cadeias globais por meio da extração intensiva de minério, petróleo, soja e carne, reproduzindo desigualdades históricas e desterritorializando comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas. A nota propõe um novo paradigma baseado em justiça socioambiental, bioeconomia e fortalecimento das capacidades locais.
A Nota Técnica nº 18 – “Política Industrial Verde e Mudança Estrutural para a Transição Ecológica no Brasil” analisa como o país pode enfrentar o desafio de descarbonizar a economia sem comprometer o crescimento e a justiça social. O estudo apresenta a Política Industrial Verde como estratégia de longo prazo, articulando inovação, emprego e sustentabilidade, e defende uma ação pública coordenada, com regulação, incentivos e investimento direto. Destaca quatro dimensões essenciais — fronteiras planetárias, tecnologias limpas, financiamento adequado e cooperação internacional — e alerta para o risco da “reprimarização verde”.
A Nota Técnica nº 17 – “Política Industrial Verde e Desenvolvimento: uma perspectiva a partir do Sul Global” amplia o debate ao situar a transição ecológica no contexto das desigualdades internacionais. O estudo propõe que os países do Sul redesenhem suas políticas industriais a partir de três dimensões — sistêmica, produtiva e social —, fortalecendo bancos públicos, cooperação Sul–Sul e inovação endógena. Inspirada no princípio das Responsabilidades Comuns, porém Diferenciadas, a nota defende que a transição ecológica deve ser também um projeto de soberania e justiça distributiva.
A Nota de Economia nº 16 – “O financiamento climático para países do Sul Global: composição, limites e desafios” analisa as transformações do sistema financeiro internacional diante da crise climática. O estudo alerta para a concentração dos recursos de mitigação e adaptação nos países do Norte e para a crescente financeirização das políticas climáticas, marcada por instrumentos de mercado como green bonds e blended finance. Defende o fortalecimento de bancos públicos, a cooperação multilateral e mecanismos que assegurem soberania nacional sobre os recursos destinados à transição ecológica.
Encerrando o conjunto, a Nota de Economia nº 12 – “Um ambiente para negócios: por que os mercados de carbono não podem evitar a catástrofe climática” questiona a eficácia desses mecanismos como solução central para o aquecimento global. O estudo mostra que a lógica de compensação favorece grandes emissores e adia transformações estruturais, mantendo o modelo de emissões sob aparência de neutralidade. Defende políticas públicas ativas, regulação rigorosa e investimento estatal em infraestrutura sustentável, substituindo a dependência de soluções de mercado por planejamento governamental de longo prazo.
Reunidas, as cinco notas oferecem uma leitura integrada sobre as contradições e possibilidades da transição ecológica contemporânea. O dossiê reflete o compromisso do Projeto Transforma com uma análise crítica, propositiva e baseada em evidências sobre o papel do Brasil e do Sul Global na construção de um futuro ambientalmente sustentável e socialmente justo.
