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As iniciativas dos BRICS para a transformação do sistema monetário e financeiro internacional

O Instituto de Economia da unicamp, por meio do Projeto Transforma, em parceria com a Fundação Friedrich Ebert (FES), publica a Nota Técnica n.º 15, intitulada “As iniciativas dos BRICS para a transformação do Sistema Monetário e Financeiro Internacional”, assinada por Bruno De Conti, professor do IE-Unicamp. O texto examina os principais instrumentos mobilizados pelo grupo desde sua constituição formal, com atenção especial ao Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), ao Arranjo Contingente de Reservas (ACR) e às discussões em torno da desdolarização.

A nota parte da constatação de que, apesar da crescente relevância econômica dos BRICS no comércio, nas reservas cambiais e na produção global, o bloco opera em um arranjo internacional ainda fortemente ancorado na hegemonia do dólar norte-americano. A publicação revisa os marcos institucionais do sistema monetário internacional, com ênfase na concentração de poder nas instituições de Bretton Woods, e analisa como os BRICS buscaram alternativas parciais a esse domínio.

O estudo mostra que o NBD, embora tenha como mandato o financiamento em moedas nacionais, ainda opera predominantemente em dólares e euros, o que limita sua função estratégica para o fortalecimento de uma arquitetura financeira autônoma. O ACR, por sua vez, permanece sem uso efetivo e atrelado a condicionalidades impostas pelo Fundo Monetário Internacional, replicando o modelo que os BRICS pretendiam superar.

A nota também aborda os debates recentes sobre a criação de uma moeda comum ou a constituição de um sistema de pagamentos em moedas locais, alternativas que enfrentam entraves técnicos e políticos relevantes. A participação de países como China e Emirados Árabes no projeto mBridge, voltado ao uso de moedas digitais de bancos centrais em transações internacionais, é apresentada como um movimento em curso, mas ainda sem institucionalidade consolidada.

A ampliação do grupo para dez membros, anunciada em 2023, é tratada como variável geopolítica relevante, sobretudo pelo perfil dos países incorporados e seu papel na produção e exportação de petróleo. De Conti aponta que esse movimento pode alterar o peso do bloco na definição de padrões monetários internacionais, ainda que não implique, no curto prazo, uma substituição do dólar como principal moeda de referência global.

A nota conclui que, diante do atual cenário de fragmentação geoeconômica e disputa por maior autonomia estratégica, os BRICS têm espaço para avançar em iniciativas que mitiguem a dependência do sistema ancorado no dólar. Para isso, serão necessárias decisões coordenadas que articulem instrumentos institucionais, capacidade financeira e convergência política entre os países membros.

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