Por Davi Carvalho
Nos dias 13 e 14 de outubro, o Instituto de Economia da Unicamp tornou-se palco de um debate importante sobre economia, meio ambiente e soberania fiscal. Realizada por meio do Projeto Transforma, a conferência internacional A Climate for Change: Towards Just Taxation for Climate Finance reuniu representantes de universidades, redes de pesquisa, movimentos sociais e organizações internacionais para discutir caminhos possíveis para financiar a transição climática com equidade e justiça.
Ao longo de dois dias de painéis e debates, o evento questionou os limites das regras fiscais e financeiras atuais, que continuam a favorecer grandes corporações e setores altamente poluentes. As discussões partiram de um diagnóstico compartilhado: o mundo não carece de recursos para financiar a transição ecológica, mas sim de mecanismos justos para redistribuí-los.
Mais de meio trilhão de dólares é perdido todos os anos em práticas de evasão e abuso fiscal — valores que poderiam sustentar políticas públicas, financiar serviços essenciais e apoiar países em desenvolvimento na adaptação às mudanças climáticas. A conferência defendeu que a recuperação dessa capacidade de arrecadação, especialmente no Sul Global, é condição central para restaurar a soberania dos Estados e reduzir as desigualdades ambientais e sociais.
Os debates abordaram temas como a eliminação de subsídios a combustíveis fósseis, o fortalecimento da tributação progressiva e o papel das novas regras internacionais de cooperação tributária. Foram apresentadas experiências e estudos que exploram alternativas fiscais voltadas à justiça climática, incluindo instrumentos de precificação de carbono, orçamentos verdes e mecanismos de transparência sobre fluxos financeiros transnacionais.
A dimensão política também ganhou destaque: discutir tributação é discutir poder. Ao revelar as estruturas que sustentam a desigualdade global — entre países, setores econômicos e grupos sociais —, o evento reforçou a necessidade de uma reforma fiscal que seja não apenas técnica, mas transformadora.










O protagonismo do Sul Global
A conferência reafirmou o papel do Brasil e da América Latina como vozes essenciais na construção de uma nova agenda econômica baseada na justiça fiscal, ambiental e social. Os participantes destacaram que as economias do Sul Global, historicamente marcadas por estruturas extrativistas e dependência financeira, precisam ocupar o centro das decisões internacionais sobre tributação e financiamento climático.
Ao sediar o encontro, o Instituto de Economia da Unicamp consolidou-se como um dos polos de reflexão e formulação sobre os desafios de uma economia justa e sustentável. O Projeto Transforma, iniciativa do IE voltada à integração entre pesquisa, política pública e sociedade, foi responsável por articular a realização do evento e garantir a interlocução entre diferentes redes e instituições do Brasil e do exterior.
O caráter híbrido e inclusivo da conferência — que combinou apresentações acadêmicas, experiências comunitárias e discussões políticas — demonstrou a potência da cooperação entre universidades, governos e movimentos sociais. Mais do que debater propostas, o encontro serviu como espaço de convergência para agendas que tratam de temas urgentes: justiça tributária, financiamento climático, soberania dos Estados e redistribuição global da riqueza.
O encontro foi organizado em parceria com o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), o Observatório Brasileiro do Sistema Tributário (OBST), a Red de Justicia Fiscal de América Latina y el Caribe (RJFALC) e a Tax Justice Network, com apoio da Agência Norueguesa de Cooperação para o Desenvolvimento (Norad). Em um momento de emergência climática e concentração extrema de riqueza, a conferência propôs um diálogo direto entre o campo da justiça tributária e as estratégias de enfrentamento da crise ambiental global.
Todas as fotos da conferência estão disponíveis no Flickr.
Todos os vídeos das sessões estão disponíveis na playlist oficial da conferência no YouTube.