Foto: Igor Omilaev na Unsplash.
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Tarifaço de Trump

O podcast É da Sua Conta, apresentado pela pesquisadora Grazielle David e a jornalista Daniela Stefano, durante o episódio “Tarifaço de Trump” analisou as recentes tensões comerciais entre Brasil e Estados Unidos após a decisão do presidente Donald Trump de impor uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros.

Em 9 de Julho de 2025, Trump enviou uma mensagem oficial ao presidente Lula justificando a medida com o argumento de que o Brasil mantém “relações comerciais injustas” que prejudicam os EUA. Entretanto, o país importa mais produtos dos norte-americanos do que exporta, o que contraria a narrativa dos EUA.

Logo no início do episódio, Stefano nos traz que, durante visita à Rússia no dia 9 de maio com intuito de estreitar laços comerciais e reduzir a dependência dos EUA, Lula criticou duramente a medida, afirmando que ela enfraquece o multilateralismo e fere a soberania dos países. O presidente aproveitou o encontro com Vladimir Putin para reforçar a cooperação no âmbito do BRICS e diversificar mercados, buscando reduzir a dependência econômica dos Estados Unidos.

De acordo com o auditor fiscal Marcelo Lettieri, a aproximação com China, Rússia e outros emergentes preocupa Washington, especialmente diante dos debates sobre a desdolarização nas transações internacionais. Trump, incomodado com a possibilidade de o bloco reduzir a centralidade do dólar, já ameaçou aplicar novas taxas aos países envolvidos.

 Lettieri aponta que o tarifaço atinge cerca de 77,8% das exportações brasileiras para os EUA. Entre os setores mais afetados estão o de café, combustíveis, ferro, aço, aeronaves, carnes e frutas. Para estes dois últimos o impacto é ainda maior, já que produtos perecíveis exigem rápida realocação para outros mercados, pressionando preços e margens de lucro.

Economistas alertam para efeitos negativos na balança comercial, redução de entrada de dólares, pressão sobre o câmbio e queda no crescimento econômico. A crise também ameaça empregos em comunidades especializadas, ampliando vulnerabilidades sociais.

Como resposta, o governo lançou o Plano Brasil Soberano, que prevê crédito emergencial, compras governamentais e adiamento de tributos para apoiar os setores mais prejudicados. Lula, no entanto, descartou medidas de retaliação, preferindo apostar na diversificação comercial e em novas parcerias internacionais.

Stefano lembra ainda que a Organização Mundial do Comércio (OMC), criada em 1995 para mediar disputas, enfrenta dificuldades: desde 2019, os EUA bloqueiam seu órgão de apelação, o que impede soluções multilaterais. Esse vácuo jurídico favorece medidas unilaterais, como a de Trump.

David expõe que a escalada tarifária insere-se em um contexto global de protecionismo crescente, reforçado pela crise de 2008 e pela pandemia, quando países reativaram políticas industriais para reduzir vulnerabilidades externas.

Mais do que razões econômicas, analistas avaliam que o tarifaço contra o Brasil possui motivações geopolíticas. Segundo o podcast, Trump teria usado a medida como forma de pressão para que o governo brasileiro interrompesse processos contra Jair Bolsonaro, aliado da família Trump.

Com impactos profundos sobre a economia e a política externa brasileiras, o tarifaço expõe não apenas as contradições da política comercial dos EUA, mas também os desafios do Brasil em buscar soberania econômica, diversificação de mercados e resiliência diante de choques externos.

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