O professor Marco Antonio Rocha, diretor do Transforma Economia, em colaboração com o think tank indiano Observer Research Foundation, escreveu um artigo de opinião sobre a importância do estreitamento dos laços entre Brasil e Índia. O autor escreve que a visita do Primeiro-Ministro Narendra Modi ao Brasil, por ocasião da 17ª Cúpula do BRICS em julho de 2025, representou um marco estratégico no fortalecimento do eixo Índia-Brasil e na consolidação da cooperação Sul-Sul. O encontro reforçou a convergência de interesses entre as duas nações, que compartilham posições semelhantes em reformas de instituições globais, bem como desafios e oportunidades no contexto internacional. A inclusão da Argentina no bloco, as tarifas impostas pelos Estados Unidos ao Brasil e a busca brasileira por diversificação comercial conferiram relevância adicional ao diálogo bilateral. Além do simbolismo político, a visita consolidou um conjunto de compromissos estratégicos pautados por seis eixos prioritários: defesa, segurança alimentar, transição energética, mitigação das mudanças climáticas, digitalização e tecnologias emergentes, e parcerias industriais.
Historicamente conectados desde a expansão ultramarina portuguesa, Índia e Brasil são democracias de grande dimensão territorial, multiculturalidade e mercados internos expressivos, que passaram por processos significativos de industrialização no século XX. Ambos desenvolveram capacidades estratégicas em setores como agricultura, farmacêutico e aeroespacial, e enfrentam desafios estruturais comuns, como desigualdade socioeconômica e pressão sobre a infraestrutura urbana. Esses fatores criam terreno fértil para cooperações voltadas à inovação tecnológica, transição energética e desenvolvimento rural. Durante a visita, foram assinados 12 acordos abrangendo desde combate ao crime organizado a cooperação em energias renováveis, propriedade intelectual e pesquisa agrícola, além da meta de elevar o comércio bilateral de US$12 bilhões para US$20 bilhões em cinco anos.
No plano geopolítico, Índia e Brasil emergem como atores centrais para a construção de uma ordem internacional mais equilibrada e representativa, sobretudo no âmbito do BRICS, que concentra cerca de 48% da população mundial e 40% do PIB global. Ao ampliar o comércio intrabloco e reduzir a dependência de estruturas centradas na China, essas nações podem fortalecer a resiliência econômica do grupo e do Sul Global. A ênfase em transições energéticas limpas, sustentáveis e inclusivas, bem como na cooperação tecnológica e industrial, posiciona ambos como modelos de desenvolvimento adaptáveis a outros países em desenvolvimento. Nesse sentido, o fortalecimento da parceria bilateral não apenas atende às demandas nacionais, mas também oferece um guia para a integração e o crescimento conjunto no Sul Global.